segunda-feira, 31 de maio de 2010

Legalização da caça à baleia

O acordo internacional que está sendo costurado para permitir que o Japão dê sequência à sua política cínica de caça à baleia, com objetivos pretensamente “científicos” é um passo atrás na estratégia de por fim a uma brutalidade cometida especialmente nas águas geladas da Antártida.

E deveria constranger todo cidadão com consciência elementar de seus direitos e obrigações

Seu direito é de ter sua cidadania resguarda contra manobras sórdidas dos governos de seus países.

Sua obrigação é se posicionar contra uma indústria sanguinária, que fere a dignidade humana ao eliminar, de forma truculenta e banal uma das criaturas mais belas que sobreviveu à mortandade num passado ainda recente, quando o óleo que forneciam era empregado em atividades que foram da construção civil, à lubrificação e iluminação pública.

As baleias azuis, que em consequencia desses ataques estúpidos e gananciosos são raras nos oceanos da Terra, são os maiores animais vivos: chegam a 140 toneladas de peso, mas são dóceis e inofensivas.

Baleias, há milhões de anos, foram criaturas terrestres que, por alguma razão muito clara se anteciparam ao capitão Nemo, o herói de Júlio Verne em Vinte mil léguas submarinas e se decidiram por um retorno ao mar.

Baleias estão entre as criaturas mais inteligentes e sofisticadas, capazes de manobras sutis para proteger suas proles de ameaças, entre elas as executadas por humanos.

Para quem não acompanha a história que envolve a negociação em curso, o Japão mata, a cada ano, nas águas geladas da Antártida, mais de mil baleias. A maior parte delas da espécie minke que, no inverno do hemisfério sul, costumam subir até as águas cálidas da Paraíba para acasalamento e alimentação.

Exatamente por isso, durante anos, uma companhia japonesa com “laranjas” brasileiros, a Copesbra, manteve em João Pessoa, capital paraibana, uma frota de barcos baleeiros que diariamente tingiam as águas oceânicas de sangue, com disparos de um arpão mecânicos instalado na proa das embarcações.

Quando uma moratória à matança da baleia foi negociada internacionalmente, há 25 anos, um velho arpoador japonês, remanescente da Segunda Guerra Mundial, deixou de embarcar/desembarcar no Porto de Cabedelo, em João Pessoa, para seu trabalho macabro. Ele vinha ao Brasil apenas durante o período de caça. No resto do ano permanecia no Japão.

O acordo em negociação agora, de iniciativa dos Estados Unidos, tem como interlocutor a Comissão Internacional da Baleia (CIB), órgão que representa os países dedicados a essa repugnante atividade.

Hábeis negociadores, com frequencia os argumentos de representantes da CIB fazem pensar que, de fato, estão protegendo esses gigantes do mar. A verdade, no entanto, é que se trata de puro negócio, com manchas rubras de sangue.

O argumento dos Estados Unidos, que deve ser submetido à comunidade internacional, instância em que o Brasil tem voto, é que com a legalização da ilegalidade sistematicamente cometida pelo Japão, esse país se comprometa a reduzir suas capturas em aproximadamente 50%.

O problema, aqui, é que não se trata de pura contabilidade.

Matar 500 baleias, em vez de mil, do ponto de vista ético não minimiza a situação.

Talvez até a torne ainda mais sórdida.

Ao argumentar que fazia capturas para “fins científicos” ─ embora matem mais de mil baleias na Antártida e a carne desses animais seja encontrada em supermercados e restaurantes ─ os caçadores japoneses jamais suspenderam essa atividade hedionda. Ao mesmo tempo em que tripudiaram sistematicamente sobre a cidadania internacional.

Legalizar a ilegalidade para conseguir uma redução na matança das baleias é uma atitude tão cínica quanto a justificativa de “caça para fins científicos”.

Por isso mesmo deve ser repudiada por todos aqueles com consciência elementar de seus direitos e deveres enquanto cidadãos desta terceira pedra do Sol.

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